Somos o país do futebol sim. Falta visão, trabalho e modernidade
Téo José
Com as perdas das Copas de 82 e 86, muita coisa andou mudando na mentalidade de quem organiza e treina no Brasil. Resolveram em vez de evoluir, criar o futebol apenas da marcação, dos volantes, dos brucutus. Tá certo que ganhamos ainda dois mundiais e chegamos na final de mais um. Ainda eram os resquícios do passado, ainda tínhamos, comparando com outras seleções, jogadores que poderiam resolver sozinho em uma ou outra oportunidade. Deu certo.
Hoje com a modernidade, com as falhas de formação cada vez mais graves, o fanatismo das torcidas, que coloca pavor em dirigente e principalmente treinadores. Nivelamos por baixo. Passamos a jogar como o Uruguai, e os argentinos. Laterais que não chegam ao fundo, já cruzam da intermediária. Meia a e centroavantes que não partem para o drible. E a organização tática é povoar o meio de campo e encher a entrada de área de um monte de brucutus. Isto vem desde a base. O nosso futebol hoje produz muito mais zagueiros do que volantes.
Isto é muito claro. Nossos treinadores, a grande maioria, com o rei na barriga, não tem olhos para ver. Hoje não jogamos mais o melhor futebol. Temos ainda um monte de bons jogadores nascendo, mas com o tempo, devido a soberba e nariz empinados, se perdem, acham que são os maiorais e não precisam aprender nada e nem de organização tática. Quando digo organização, falo por exemplo da Alemanha. Um time onde o craque é o conjunto a forma de jogar, uma equipe recheada de bons jogadores, que tem na cabeça atuar pelo esquema, pela vitória, pelo que foi treinado e entendido. Por isso está assim. Um projeto longo, que inclui as categorias de base, os clubes e até o próprio governo com quem tem o poder de determinar as coisas do futebol.
A única chance do Brasil bater a Alemanha era atuar como time pequeno, dentro da filosofia da maior parte dos atuais treinadores que aqui estão. Só que a soberba não deixa dar esta “passo atrás”. Que no fundo já demos uma porção, viramos a esquina andando para trás, deixando de lado nosso futebol ofensivo, de boa individualidade e bem armado. Hoje jogamos de forma comum. A Argentina é prova. Sempre foi um time de garra marcador, mas agora não tem quatro jogadores que decidem, dois ou talvez três, por isso trabalhou suas deficiências. Lá também está acontecendo algo parecido com aqui. Falhas na base e gente saindo cedo e se achando demais. Só que os treinadores se mantém firma nas suas filosofias, na essência do futebol argentino.
O futebol cresceu no mundo. Evoluiu em muitos países. Aqui está andando para trás. É nossa maior paixão, mas quem comanda dentro e fora de campo está esquecendo das raízes e não quer evoluir. Busca o caminho mais curto, que na maioria das vezes vai nos levar a frustração e decepção. Precisamos de gente que queira trabalhar duro, de gente que estuda e tenha cabeça aberta. De gente com coragem. Não de donos da verdade. Poderia citar uns três ou quatro nomes locais e mais uns cinco de fora, vou ficar com um: Cuca. Um profissional, que quer fazer diferente. E hoje o diferente é igual ao nosso passado, com mais organização, estudo, modernidade e sem oba, oba ou estrelismo de qualquer lado do futebol.
Agora vamos para a final. Nos vemos na Band, domingo, no Maracanã. Para o bem deste futebol, do momento do futebol, sou mais Alemanha. Trabalho longo, sério e mostrando um lindo futebol.