É a cabeça, irmão… é a cabeça
Téo José
Thiago Pereira, medalha de prata na natação em Londres, tocou em um ponto que já conversamos aqui no passado. A preparação de dois anos nos EUA foi fundamental para o seu crescimento. O nadador disse que além da técnica, aprendeu demais no psicológico. Ou seja, formar uma cabeça mais vencedora. Este é ponto.
Aqui no Brasil, chegar em um Mundial ou Olimpíada para muitos já é quase o suficiente. Sei que muitas modalidades ainda não têm o apoio necessário. Outras estão em altíssimo nível. Mesmo sem este apoio, o atleta precisa ter o seu lado pessoal quando está competindo. Mas não temos pelos lados de cá esta preocupação. A técnica tem uma prioridade absurda. Lidar com a pressão e conseguir algo mais com a cabeça fort, não é fundamental na nossa preparação.
Vou contar uma rápida passagem pessoal. Quando morava em São Paulo, já com meus 32 anos, resolvi pegar aulas de tênis. Entrei em uma boa academia, professor excelente e bem recomendado. Parti com minha raquete. Ele sempre batia no lado da técnica, terminação de movimento, altura da bola e por ai vai.
No mesmo ano me mandaram para Los Angeles, onde fiz o GP de Long Beach da Indy. Depois de duas semanas, viria Motegi no Japão. A emissora, na época o SBT, resolveu me deixar na Califórnia por cerca de dez dias para depois embarcar rumo a Tóquio. Fiquei quase que com uma semana de folga.
Ao lado do hotel tinha uma academia de tênis. Então paguei umas seis aulas. O professor que trabalhava mais com adolescentes, perguntou se já jogava e mandou bala. O estilo era totalmente outro. Mais duro e a argumentação nos erros e acertos era sempre ganhar ou perder. ''Se fizer desta forma, o adversário bate ali e você perde.'' ''Assim dá contra ataque.'' ''Essa bola tem de ser mais forte para marcar o ponto.''. Estas eram as coisas que mais ouvia.
Este é um exemplo amador, puro e simples de como o atleta e o esporte é tratado por lá.
Não vou cair na indelicadeza de dizer que em muitos casos somos amarelões. Não. Mas em várias oportunidades falta uma entrega maior – que só vem com a cabeça forte. Considero o caso da Fabiana Murer como um destes. Nossa campeã não deve estar em um bom momento, pois abriu mão de tentar. Poderia ter um risco? Claro. Mas nestas horas isto não é o mais importante. Se fosse em outra época, tenho certeza que pelo menos faria tentativa.
A seleção feminina de futebol dos EUA é outro exemplo. Mas pelo lado oposto. Hoje não tem tantas jogadoras que desequilibram e já a vi em situações delicadas na Inglaterra em, pelo menos, dois jogos. Porém deu a volta por cima. Acreditar sempre. Colocar na cabeça que é melhor. Ou que pode ser melhor.
Além de melhores condições em várias modalidades, os atletas brasileiros de alto nível precisam cuidar da cabeça. Nos treinos e nas competições.