Os “professores”
Téo José
Na cabeça de quem gosta do futebol bonito e tem pelo menos trinta anos de idade, é claro que o futebol brasileiro já teve mais arte e foi muito melhor jogado. Os meias e atacantes eram sempre os mais desejados pelo futebol de fora. Hoje lutamos para ser segundo na América do Sul, porque estamos atrás do Uruguai e, neste momento, no mesmo nível de Argentina e talvez Chile. Na Europa, na atualidade, se fala mais em zagueiro e volante “made in Brasil”.
Desaprendemos? Não, mas a safra de treinadores, que muitos chamam de “professores”, não tem sido das melhores e tem piorado ano após ano. Nunca tivemos um de grande destaque lá fora. Felipão chegou a ser vice na Eurocopa em Portugal com time da casa, perdendo para Grécia, e depois se afundou no Chelsea. Carlos Alberto Parreira, venerado por aqui, talvez por ser artista nas horas vagas e intelectualizado, ganhou títulos quando esteve envolvido com a seleção, mas foi um dos times mais feios que vi jogar com a amarelinha e, fora do Brasil, nunca esteve em grande uma seleção ou fez um trabalho admirável. O titulo da Copa do Brasil pelo Corinthians, em 2002, também foi em cima de um futebol que não me atraiu.
Hoje, os treinadores ganham como nunca e arriscam na proporção inversa. O que vemos são esquemas altamente defensivos. Esqueceram os três zagueiros, mas povoam o meio de campo com volantes, chegando ao cumulo de Joel Santana, técnico do Flamengo, colocar quatro para enfrentar o Lanús. Isto mesmo o “temível” Lanús, pra quem não sabe, é um time mediano da Argentina. O reflexo está nas categorias de base, com a formação em série de zagueiros e principalmente volantes e o pior: gente que só quer saber de marcar e pouco levanta a cabeça para sair jogando. Nossa seleção de 1982, uma das melhores da história, tinha como volantes Cerezo e Falcão. Quanta saudade…
Josep Guardiola, treinador do Barcelona, um estudioso que se preparou para o cargo, conseguiu montar um dos melhores times de todos os tempos. Antes de assumir a equipe B, andou conversando com vários treinadores, esteve na Argentina, mas não passou por aqui. Isto porque diz que o Barcelona tenta jogar como o Brasil do passado, um time admirado por seus avô e pai. Ele é inteligente e sabe que iria perder tempo falando com gente que destruiu a nossa essência.
O Corinthians, atual campeão brasileiro, nos últimos 45 jogos, só uma vez conseguiu vencer uma partida por mais de dois gols de diferença e foi contra o Atlético-GO no Pacaembu. Para maioria, seus melhores jogadores são Ralf e Paulinho, dois volantes. É muito pouco para o atual campeão brasileiro.
Claro que temos exceções, bons treinadores, com visões de se jogar um futebol bonito, mais com a nossa cara. Mas isso tem sido cada vez mais raridade. Hoje, o que observamos, é primeiro entrar em campo para não perder e depois tentar ganhar. Muitos podem dizer que isto acontece porque os treinadores que perdem três, quatro jogos, são demitidos. Sempre foi assim por aqui. Só que no passado os grandes raramente perdiam tantos jogos, porque eles entravam em campo para vencer e com o pensamento de atacar.
A geração atual já está comprometida e temo pela próxima também. O Brasil precisa mudar sua forma de jogar na seleção e maioria dos clubes. O exemplo não está longe em quilômetros e sim no tempo. É só olhar pra trás.